...Às vezes dá-me p`a ler outras pra escrever, às vezes dá-me p`ouvir outras pra cantar, às vezes dá-me p`a rir outras p`a chorar... Eis que apenas "eu" e os "outros" vivemos no mesmo mundo, não assim tão longe...

27/09/2011

...Sou eu...


Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,

Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.
Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.
Sou eu mesmo, que remédio! ...
àlvaro de campos

25/09/2011

... livrai-me ...


Deus de vez em quando me tira a poesia.
Olho para uma pedra e vejo uma pedra
disse (adélia prado)
mas também há quem diga,
que Deus, não nos tira as coisas... livra-nos delas...

21/09/2011

...sobre isso...


"Sabe, sobre esse seu ‘amor’ que você está dizendo. Eu posso ouvir você dizer milhares de vezes, mas não significa que uma junção de palavras vai me fazer sentir como era antes, tudo outra vez. Seria até bom se você ficasse quieto e deixasse a reputação do amor intacta. No futuro ouvirei de alguém que esse alguém me ama e quero ter um conceito melhor sobre isso.”

Gabito Nunes

19/09/2011

...enquanto doi...



Ultimamente parece que meu coração tem pequenas plantinhas com raízes profundas plantadas nele. E elas estão sendo arrancadas uma a uma, pouquíssimas permanecem inalteradas e nem faço ideia de por quanto tempo. Cheguei aqui com uma bagagem carregada de entulhos que acumulei durante toda minha vida, algumas coisas úteis, outras nem tanto. Trouxe uma parte do meu comodismo, meus defeitos jogados no fundo da bagagem e meu sorriso por cima de tudo; um pouco como disfarce, um pouco como verdade.

E agora não sei até que ponto esse sorriso cobre todo o resto, porque a mala está muito remexida e muita coisa foi arrancada deixando uma desordem no que estava perto. Foi meio que um efeito dominó. E o fato aqui não é tristeza ou felicidade. O fato é o incômodo que isso causa e a forma como meus defeitos, hoje, estão mais à mostra que nuncaantes.

É o início do processo de transformação, de mudança de caráter. E, por mais bonitas que essas palavras aparentem ser, elas não são... Não enquanto dói...

alma in blog

18/09/2011

...vazio...


Penso em você apesar de não sentir sua falta e muito menos sua presença.
Penso em você porque sinto um vazio, que eu não sei do quê.
 
 
Caio Fernando de Abreu

16/09/2011

...Amor?...


Começa pedindo um amor verdadeiro.
Pra sempre.
Desiludido, deseja apenas um grande amor.
Verdadeiro ou não.
Não se satisfaz com o amor que tem...
Quer algo que nem sabe mais o que é.
Valoriza o amor de quem não merece.
E no final, cansado da procura, aceita qualquer amor.
Amor?
Ah coração...
Você nunca sabe o que quer.

alene mattos in,
letras tortas

15/09/2011

...em quem...


Em quem pensar, agora, se não em ti?
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a manhã da minha noite…

Nuno Júdice
(Pedro, lembrando Inês)

14/09/2011

...fica...


(...)E eu não tive tempo de dizer,
que quando a gente precisa que alguém fique,
a gente constrói qualquer coisa, até um castelo(...)


Caio Fernando Abreu, in:
O Inventário Do Irremediável

...saudadear...


Separação inexiste, se há força de amor e fé.
Sentir saudades é trazer mais perto ainda,
tudo que a gente pensa perdido.
"Saudadear", dizia ele...

Guimarães Rosa, in:
Primeiras Estórias

...insuportável...



Permito, que nessas horas vagas,
onde os desejos tem mais tempo,
que eu seja seu pensamento a te roubar vida afora.

E quando a falta for insuportável e vier em minha busca,
será a minha vez de ver, se sua forma ainda preenche
aquela mesma lacuna, (talvez), vazia.

Patty Vicensotti

13/09/2011

...preciso de ti...


Preciso de ti. Por nenhuma razão em especial. Apenas por tudo, apenas por nada. Preciso desse sorriso, que se te acende no rosto e me ilumina os dias. Preciso de me encontrar no brilho dos teus olhos faroleiros que me fazem rumar ao cais onde te escondes. Preciso de ti… de deitar a cabeça no teu peito e ouvir o tic tac de um coração que trabalha com a precisão de um relógio suíço. Preciso de te ouvir gemer baixinho o meu nome em doces ecos surdos. Quero adormecer no teu colo e repousar em ti este permanente cansaço. Preciso de ti… porque a minha alma já não me pertence, abandonou-me e habita descaradamente na tua. Preciso que abandones todos os medos e dúvidas e que te deites ao meu lado, que me abraces de forma carinhosa e protectora. E amanhã, quando eu acordar… preciso que estejas exactamente no mesmo sítio.

sandrasofiabarbosa in,
aspalavrasquenuncatedirei

08/09/2011

...perco o siso...


Mas o que mais me impede inda louvar-te,
É que quando te vejo perco a língua,
E quando não te vejo perco o siso.



Luís Vaz de Camões

06/09/2011

...contam...



Morro de saudade.
Que coisa maluca a distância, a memória.
Como um filtro, um filtro seletivo, vão ficando
apenas as coisas e as pessoas que realmente contam.

Caio Fernando Abreu
in: Cartas - A Guilherme de Almeida Prado

02/09/2011

...sabendo...



Digo-te adeus.
Outra vez.
Sabendo que, tal como antes, não vais reparar.

pedro guerra