Eu sabia já que algo se preparava contra o meu corpo.
Agora torço-me de agonia nos versos deste poema.
Esta é a terra outrora fértil que os meus dedos dilaceram.
Os meus lábios são feitos desta terra, são lama quente.
Vou partir pelo teu rosto para mais longe.
A minha fome é ter-te olhado e estar cego.
Agora eu sei que te abres para o fogo do relâmpago.
Tenho a convicção dos temporais.
Já não sei nem o que digo nem o que isso importa.
Guia dos meus cabelos rasos, da melancolia, da vida efémera dos gestos.
Nesse dia fui melhor actor do que a minha sinceridade.
Nesse dia fui melhor actor do que a minha sinceridade.
A cesura enerva-me no estômago
Cortei de manhã as pontas dos dedos mas sei já que elas crescerão de novo a proteger as unhas.
Talvez a vida seja estranha, talvez a vida seja simples, talvez a vida seja outra vida.
A linha branca da Beleza é a minha atitude que se transforma.
A violência do sono sobe sobre o meu conhecimento.
Fui algures um horizonte na secessão das pálpebras.
Nuno Júdice, in "O Pavão Sonoro"