...Às vezes dá-me p`a ler outras pra escrever, às vezes dá-me p`ouvir outras pra cantar, às vezes dá-me p`a rir outras p`a chorar... Eis que apenas "eu" e os "outros" vivemos no mesmo mundo, não assim tão longe...

31/01/2010

o amor, um dever de passagem



Fui envenenado pela dor obscura do Futuro.
Eu sabia já que algo se preparava contra o meu corpo.
Agora torço-me de agonia  nos versos deste poema.

Esta é a terra outrora fértil que os meus dedos dilaceram.
Os meus lábios são feitos desta terra, são lama quente.
Vou partir pelo teu rosto para mais longe.

A minha fome é ter-te olhado e estar cego.
Agora eu sei que te abres para o fogo do relâmpago.
Tenho a convicção dos temporais.

Já não sei nem o que digo nem o que isso importa.
Guia dos meus cabelos rasos, da melancolia, da vida efémera dos gestos.
Nesse dia fui melhor actor do que a minha sinceridade.

A cesura enerva-me no estômago
Cortei de manhã as pontas dos dedos mas sei já que elas crescerão de novo a proteger as unhas.
Talvez a vida seja estranha, talvez a vida seja simples, talvez a vida seja outra vida.

A linha branca da Beleza é a minha atitude que se transforma.
A violência do sono sobe sobre o meu conhecimento.
Fui algures um horizonte na secessão das pálpebras.

Nuno Júdice, in "O Pavão Sonoro"

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