...Às vezes dá-me p`a ler outras pra escrever, às vezes dá-me p`ouvir outras pra cantar, às vezes dá-me p`a rir outras p`a chorar... Eis que apenas "eu" e os "outros" vivemos no mesmo mundo, não assim tão longe...

31/08/2009

Transformas-me ou devolves-me a autenticidade?



"E bastava ouvir a sua voz pelo telefone e o vazio e o cheio conjugavam-se sob a forma de angústia e alegria que se enlaçavam fortemente entre o sonho e a realidade.
Quando nos juntávamos eu tinha a sensação de estar a dar continuidade a qualquer coisa de muito importante sem identificar ou saber exactamente o quê. E depois, sentia-me como um rio se deve sentir depois de atravessar os rápidos acidentados e cascatas abruptas para passar a um leito regular com margens verdejantes e árvores majestosas onde as famílias fazem piqueniques e as crianças brincam alegremente em segurança. Ela serenava-me e tranquilizava-me o espírito só com a sua presença. Era como se ela me transformasse. Ou então, eu retornava à minha autenticidade, à minha verdadeira natureza.

A consciência que tinha era que não imaginava a minha vida e o meu mundo sem a “D”. Sempre que nos despedíamos um do outro, eu mergulhava numa nostalgia e num tédio enorme."

...enquanto...


"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas ...
Continuarei a escrever."

Clarice Lispector

...sempre uma só...

pedro e inês dematos ferreira

Todos os amantes querem os olhos nos olhos para existir completos, completamente, e provar Deus no beijo, perdido novelo de mim e de ti, sem saber que língua é de quem quando o céu se abre, devagar, devagar, doce docemente, assim se abrem os lábios lambidos de uma ternura toda, obscena e pura, à procura, novelo, sem saber o que é de quem, até que a fúria passe estreita, corrente lenta, entre os dedos, i felt the earth move through my hands like the trembling heart of a captive bird.

Pedro e Inês, Cash e Carter, London e Troup, dormem juntos de não serem até que a morte os separe, porque se em vida uma só carne, sempre uma só.

É muito fácil o amor assim. É o mais fácil amor, só sede de e só água em. É por isso que o mar de mim se abre num sulco claro e bem navegado, ainda que tema, e eu temo, mesmo uma pequenina sombra, se inesperada, me assusta, temerária não sou, vou adiante na mesma. Tremo. Adiante.

A minha fé nasce da minha carne: se não for tudo, não quero nada.
Quando morrer quero que me deitem ao lado do meu amor.

29/08/2009

...a minha ausência de ti...


Foi tal e qual o inverno a minha ausência de ti,
prazer dum ano fugitivo:
dias nocturnos, gelos, inclemência;
que nudez de dezembro o frio vivo.

E esse tempo de exílio era o do verão;
era a excessiva gravidez do outono
com a volúpia de maio em cada grão:
um seio viúvo, sem senhor nem dono.

Essa posteridade em seu esplendor
uma esperança de órfãos me parecia:
contigo ausente, o verão teu servidor
emudeceu as aves todo o dia.

Ou tanto as deprimiu,
que a folha arfava
e no temor do inverno desmaiava.


William Shakespeare, in "Sonetos"

Tradução de Carlos de Oliveira

...Continuo a mesma pessoa...

oxalá esteja certa essa teoria de que "o gelo conserva"

...sim... tenho andado calada... transparente ao máximo como sempre...se nada em mim existe nada posso partilhar, nem pensamentos nem sensações, nem reflexões básicas, nem nada de nada... sinto-me oca, nos últimos tempos, completamente inanimada... e se assim me sinto, nada posso exteriorizar aqui que, possa ter algo de suculento... porque eu escrevo sempre na mesma pessoa, na primeira pessoa, e se não há nada pra escrever, simplesmente, não escrevo...

...não, não estou bem... nem irei estar durante muito tempo...pelo menos até que o amor me volte a tocar, a fazer acreditar que existe...

Continuo a mesma pessoa, tanto alegre como chorona, tanto mau feitío como sociavel qb, tanto com vontade de rir como de cantar, ou de ouvir e ler, ou de escrever e calar... mas, estou confusa, muito confusa...nunca pensei que pudessem enganar-me assim, ou magoar-me assim...

E continuo sempre a pensar que eu poderia ter feito qualquer coisa de diferente... parece karma, estar sempre a assumir as culpas do que os outros não conseguem despertar em mim...e fico sempre com a mesma pergunta dentro do meu coração: "será que fiz tudo?"...será que amanhã ainda me amas?"

E a amargura não desaparece...
E a saudade de sentir-me parte da vida de alguém, aliás, a parte, dessa vida, desse alguém, a necessidade de sentir-me querida e importante destroi-me, e a pouco e pouco abafa toda a saudade, toda a vontade de acreditar, toda a esperança de reencontrar esse amor, esse alguém.

Hiberno mais uma vez, e espero que o inverno não seja longo demasiado, e se continuo a mesma pessoa, não há como sentir de outra forma: preciso de luz, de sol, de ti, na minha vida...

18/08/2009

...às vezes...


As vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas…
O tempo passa… e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos
... e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!

Bob Marley