...Às vezes dá-me p`a ler outras pra escrever, às vezes dá-me p`ouvir outras pra cantar, às vezes dá-me p`a rir outras p`a chorar... Eis que apenas "eu" e os "outros" vivemos no mesmo mundo, não assim tão longe...

29/07/2009

...da minha alegre casinha...


Ele chamava-lhe “Nina”.
Ela chamava-lhe “Nino”
Não havia maior testemunho que este tratamento de carinho. Existia. Era real.

Apaixonaram-se sem medos, e se entregaram sem guerras nem mágoas nem conflitos, sem segredos um ao outro, e abancaram um no outro, porque simplesmente estarem juntos para o que desse e viesse era bom. Eram felizes. Nada deviam a ninguém, e de ninguém tiveram para ouvir provocações, ou lições.

Sim, ingenuamente, se amaram. E não podem negá-lo.
Sim, naturalmente formaram uma vida, um casamento, uma família, e sonharam.

Houve um tempo em que todas as coisas que faziam, eram boas, todas as coisas que diziam eram mimos, todas as canções que ouviam eram suas, todas as pessoas que os viam reflectiam, um casal feliz, um casal bonito, um amor verdadeiro. Existia. Era real.

Houve um rebento lindo, um inquestionável filho desse amor.
E existe…cresce assustadoramente, é a prova viva de que esse amor existiu.
Chama-se Rafael. Ela chama-lhe Rafa ou Rafinha e ele chama-lhe filho.

Houve brincadeiras, gargalhadas, passeios, anseios, sonhos partilhados, caminhos fáceis e difíceis em que se sentiram guiados, acompanhados, palmilhados a dois… Mas depois cada um foi pró seu lado… Surgiram os problemas, os ciúmes mútuos, as dificuldades, os desencontros de ambições ou de interesses, os afastamentos, as discussões, os silêncios, as desilusões acumuladas, as decepções acumuladas…
E, as boas recordações?!
Foram camufladas, os bons momentos foram guardados, num lugar onde não mexem mais, onde esquecem, onde existem são reais mas não se tocam… são preciosas demais.

Em muitos casamentos, aparecem esses desencantos, de ambas as partes e, nunca pensamos quando casamos, que isso seja o nosso caso, que vá acontecer connosco… e não acontece… não aconteceu … Só acontece, quando não há maturidade ou vontade forte o bastante para quando os problemas aparecem, saber vivê-los, ultrapassá-los, a dois, e de voltar a encantar, voltar a dar...e neste lar foi o que houve ou não houve.
Pudera, se não, não estavam hoje separados.
Erraram os dois, fracassaram ambos sim, se não, não se sentiam culpados os dois.

Houve uma manhã em que ele não pediu, exigiu o divórcio…. Foi um ultimato cruel, sem margem para dúvidas, a sua intenção de livrar-se dela era prioritária, acima daquele carinho que existira, acima do amor, da vida, do filho, do casamento, de tudo o que era real… e que embora adormecido existia.
Não houve forma de salvar aquela união, que ambos assumiram, que, já não fazia sentido. E antes dos papéis serem entregues, ele sublinhou, que era mesmo isso que queria… com ela nunca mais quereria nada, mas queria tudo, tudo o que havia, tudo… em troca de um amor que raivosamente negou, e nega até hoje, alguma vez ter sentido. E jurou que a iria esquecer, porque a dor do que sentia nesse dia, era real.

Só houve uma diferença entre os dois.
Ele que dizia que a amava como nunca, injustamente acusou de muita coisa e, de nada de nada perdoou, ou tolerou ou tentou salvar. Como hoje escreve “Nada tinha a perder com o divórcio” e hoje, diz que só agora aprendeu a amar (a outra).
Ela, que ele dizia que nunca o tinha amado, tinha-o sempre perdoado…tudo, e tudo incluindo o intolerável vivia, para manter o quase nada que ainda tinha, mas que existia…era real.

Resumindo numa palavra ACABOU… e foi há quase dois anos.
O divórcio saiu um mês e pouco depois.

Hoje, ele vive outro amor, outra mulher desde poucos meses depois disso, outras crianças, outras ou as mesmas músicas, noutras ou nas mesmas cores, e abafa as lembranças.
Hoje, ela ainda está sozinha, como antes estava, e espera para viver outro amor, outro homem, mas sempre a mãe da mesma criança de todos os dias, dias sem cor, dias em que vive ou não vive, todos os seus amores, apenas de lembranças.
Amores que são reais… existem… e nunca o negou, nunca, de cada vez que amou.

Divide-se, sempre que acaba um casamento, o recheio, o valor da casa, os cds, os filmes, os livros, os trapos, os tarecos… mas não se consegue partir ao meio, o coração, e a memória.
Não podem lembrar-se um apenas das coisas boas e outro apenas das coisas más… Os dois lembram de tudo…. Embora até o possam negar para não ferir mais.

E como se divide um filho?
O rafinha tinha dois anos… hoje tem 4, e é dos dois, e partilham-se as despesas, e o desfrute da sua presença em casa, e ambos o amam por igual, embora, ambos já não formem um casal, e por isso mesmo, esse filho não pode dividir-se, entregar-se aos dois em simultâneo, e ainda sofre mais que os dois, porque tem que revelar-se feliz, com cada uma das pseudo circunstancias que ambos vivem à posterior divórcio, e a sua felicidade só seria real, se ambos, estivessem com ele… E não é o primeiro filho de pais separados…e todos sabemos, que antes bem, com um e com o outro em separado, do que com os dois, mal.

Mas isso não existe, a felicidade, não é real.
E vai-se digerindo, vai-se vivendo, vai-se lembrando, vai-se esquecendo… até que acontecem as coisas, que têm que acontecer, e cai-se na real:

Havia uma casa, linda, desenhada por ela com longas dissertações sobre as divisões e o seu futuro com ele, com tudo ali escolhido ao pormenor para ser o melhor para a vida pelos dois, enquanto esperavam esse filho. Foi assim a cor decidida, só quando souberam o sexo: Se fosse menina (Eva) seria Rosa Velho; se fosse menino (Rafael) seria Azul. Lá está… e lá, foram muito felizes, mas não para sempre… porque também foram muito infelizes, nos diversos momentos guardados no tal lugar onde não se mexe, de cada um dos três elementos desta família desfeita.

E hoje, ela passou ali, e ao que viu e doeu, tirou uma foto ao placar que diz “vendido” na janela. Sem saber como controlar, salta o coração do peito e a “nina” ainda chora porque, afinal era real o sonho, existiu… mas ACABOU… finalmente, para bem da estabilidade emocional dos três ACABOU. Mas muito, muito, muito, aqui ficou.

Resume-se a diferença entre os dois: Nunca a nina diria que “Nada tinha a perder”!
Agora é voltar a jogar… e quem sabe, talvez deixar o amor vencer!!!

Agora é mudar... mudar tudo... agarrar no rafinha e partir, instalarmo-nos noutra casinha, e viver... enquanto ele que nada tinha a perder (ganha) uma nova vida pra se instalar, com o seu novo amor, e com os filhos dos outros... e esquecer!

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